Sobre as indagações de Joyce

Olá Joyce;

Que bom você ter tido contato com o blog do Espaço Cultural Mané Garrincha. Que bom você, assim como outras pessoas, ter gostado do que viu. Para você e aos demais, nossa grata saudação.

Não, não somos botafoguenses. Aqui se tem variadas simpatias futebolísticas: palmeirense, santista, corintiano, são-paulino, cruzeirense, vascaíno, etc.

Claro, que honra a dos botafoguenses, como você, ter no quadro do clube a figura de Mané Garrincha e, saiba, aqui há espaço para os torcedores – proletários do querido Botafogo, assim como aos de outros clubes mais.

Falamos isso porque, de maneira geral, o futebol em sua origem no país, trazido por setores da classe dominante, impedia aos pobres, principalmente negros, de adentrarem aos clubes. Entretanto, todos conhecem a história: depois que os de sangue indígena e negra pisaram nos gramados, dali não saíram mais e os clubes passaram a ter cor do verdadeiro povo brasileiro.

Ao escolhermos Mané Garrincha como simbologia do nosso espaço, demarcamos campo com a história do país que vai pra frente, porque, para nós, um país irá para frente somente porque vive em seu hoje, porque seu povo briga e baila feito Garrincha em área adversária e, se acaso for, preferirá o drible ao gol, preferirá a vida ao G20 e deixará de ter cara feia com a segunda-feira quando esta deixar de ser amiga do patrão. Dispensará fabricadas glórias no passado, mas não esquecerá de sua gente cantando livre numa Palmares sem cotas, onde Zumbi não era tão somente um dia de feriado.

Ao reivindicarmos Garrincha é porque este tinha os bolsos furados para o dinheiro. Porque ignorando as fronteiras lingüísticas, batizou, sem discriminar, todos os adversários dos estádios do mundo de simplesmente joões. Porque, com suas pernas tortas desdenhou da cultura do corpo perfeito. Garrincha riu de todos nós!

É com a cara e a coragem que adentramos ao gramado da vida e nele jogamos contra tudo de ruim: as telenovelas de final feliz, a comemoração do gol com dedinho pra cima, o vira-casaca ex-operário das greves tornado presidente da nação e puxa-saco de banqueiros, a esquerda sisuda que burramente converteu seu programa num credo e teme o palpitar das arquibancadas e das ruas, por isso, de costas para o povo, escrava dos parlamentos, sindicatos, ongs e afins.

Por fim cara Joyce, estamos de acordo quanto a toda unanimidade ser burra, inclusive as rodrigueanas, sempre dispostas a espezinhar a esquerda e de sorriso cínico para a direita. E mais, cristã por choramingar aos militares a libertação do filho guerrilheiro, para tristeza do papai que nunca fez defesa de outros tantos filhos dessa mãe gentil chamada Brasil. Tantos iguais a seu filho torturado ou ainda pior, torturados e mortos sem deixar vestígio.

Chegamos ao final dessas linhas mantendo em aberto a interlocução contigo e com tantos outros, irmãos e irmãs de luta, com a reflexão sobre o que se passa nos estádios atualmente do Brasil, porque neles, nos estádios, passa a própria vida. Pois ali, nos estádios, assim como fora deles, ao torcedor pobre a vida tem sido negada!

Ingressos caríssimos calam o coro das arquibancadas e da geral. Um coro pálido e tímido soa nos camarotes. O futebol volta a cair nas graças da classe dominante do país, a mesma que outrora negou aos pobres o direito aos clubes.

Todavia há um grito que continua a incomodar os senhores da ordem. Ele vem da torcida do Santa Cruz pernambucano: guerra entre as classes, paz entre as torcidas! Engrossemos este coro!

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