Espaço Cultural Mané Garrincha: CAMILO TORRES, O PADRE GUERRILHEIRO

“Por que não nos unirmos? Sim, porque já se uniram

O fuzil e o evangelho nas mãos de Camilo”

- Dispersos, Ali Primera -

Em Camilo Torres o verbo se fez carne, radicalizou-se. Sua teologia da libertação elevou o discurso da Igreja da opção para os pobres à prática militante, fundindo cristianismo e socialismo. Em Camilo não houve recusa à perspectiva do paraíso celeste, pois era um cristão. Porém, sem hipocrisia, exigiu sua base terrena - uma Humanidade regada com o pão da vida.

Nascido em 1929 no seio da classe dominante colombiana, Camilo Torres Restrepo se tornou padre por amor ao próximo. Co-fundador da primeira Faculdade de Sociologia da América Latina em seu país, Camilo investigou a formação desta sociedade a partir de suas elites no poder, marcadas pela corrupção e servilismo ao capital estrangeiro. Fabricantes da morte, ontem produziram La Violencia, esses dias o Plan Colombia e agora o Paz Colombia sem reforma agrária e com muitas commodities.

Foi por contrapor-se a unidade entre conservadores e liberais pela manutenção do poder que Camilo esteve à frente da criação do Frente Unido, congregando setores progressistas e de Esquerda na defesa dos direitos dos trabalhadores. Agindo por fora e contra o Estado.

Coerente, buscou as armas quando sua voz já pouco podia fazer pelo povo. O padre se fez guerrilheiro. Em 15 de fevereiro de 1966 a morte o encontrou em meio ao sermão da montanha, que também havia se tornado seu: Nenhum Passo Atrás! Libertação ou Morte!

Morto, seus ideais transcenderam há seu tempo. Hoje, 50 anos depois, percorrem NUESTRAMERICA para nos lembrar que os povos nunca buscam o caminho da violência. Para ela são empurrados pelos senhores do capital. Fosse só isso e Camilo já teria razão quanto a nossa unidade necessária. Por isso mesmo, 50 anos depois, Camilo vive!

RODA DE CONVERSA SOBRE OS 50 ANOS DE CAMILO TORRES

QUANDO? SÁBADO, DIA 13 DE FEVEREIRO, ÀS 18H.

LOCAL: RUA SILVEIRA MARTINS, 131 – SALA 11, CENTRO DE SP.

REALIZAÇÃO: ESPAÇO CULTURAL MANÉ GARRINCHA

CONTATOS: ecmg.blog@gmail.com / espacogarrincha.blogspot.com

O que é o Espaço Cultural Mané Garrincha?

Primeiramente estabeleçamos um corte importante: o Espaço Cultural Mané Garrincha é mantido e gerido por trabalhadores/proletários, nele não há um centavo sequer de ongs, do estado, de igrejas... Esse “detalhezinho” é fundamental para nós, porque ao mesmo tempo em que aparentemente limita nossas possibilidades financeiras, liberta nossos sonhos, que podem fluir livremente, inclusive para além desta sociedade caduca. Para nós a história não acabou!

Não, a história não acabou, apesar de tantos que lutam exaustivamente para enterrá-la, transformando-a num presente eterno, sem passado e sem futuro. Reivindicamos nosso passado.

Salve Zumbi dos Palmares! Salve Canudos! Salve Mané Garrincha! Neste sentido, nosso Espaço Cultural busca congregar as forças inquietas e lutadoras do povo num ambiente seu, livre. E assim, quiçá consigamos ir forjando nosso futuro, um futuro do trabalho livre, não alienado e não explorado.

Acreditamos que os seres humanos só se realizam no trabalho livre e não alienado. Na construção cotidiana do nosso Espaço experimentamos um pouquinho desta realização. No Espaço Mané Garrincha queremos nos apropriar do saber e do prazer, de uma forma plena e humana, ou seja, não mercadológica. Numa sociedade que só nos oferece mercadorias não cabem nossos sonhos, pela simples razão de que ousamos desejar um amanhã não mercadológico.Sendo assim, queremos nos juntar a todos que compartilham semelhantes angustias e desejos, para estes nosso Espaço está de portas abertas, e em construção. Enfim, apenas nos reservamos o direito de fechar as portas do nosso Espaço para tudo que for comercial, conservador e preconceituoso, que fiquem nos shoppings!

Por que Garrincha?

Figura mítica do futebol brasileiro e mundial, e apesar de ter carregado o selecionado brasileiro quase que nas costas na conquista do Mundial de 1962, Garrincha tem caído no esquecimento ao longo dos anos.

Contra ele jogam juntos: seu alcoolismo, seu desdém para com as regras – todas elas muito certinhas, retilíneas – e o profissionalismo do futebol de hoje. Como se não bastasse isso, suprema ironia do capitalismo, telenovelas da TV Tupi chegaram a ser gravadas sobre fintas do Mané. Mas todas as telenovelas não valem um drible de Garrincha.

Enfim, por que Espaço Cultural Mané Garrincha? Porque Garrincha “é o nome de um passarinho inútil e feio.” Garrincha era tudo que não daria certo. Garrincha era um homem do povo. E, entrentanto, esse homem de pernas tortas foi capaz de driblar todos os infortúnios. Foi quiçá “parábola do homem comum, roçando o céu.” Garrincha foi “a alegria do povo”, e povo sem alegria é povo submisso, incapaz de amar a vida e de lutar por ela. A Garrincha rendemos nossa homenagem: viva Mané! Em Garrincha buscamos nossa inspiração, quiçá sejamos capazes de fintar como o genial ponta direita, com a singela diferença de que driblaremos pra esquerda. Mané, Evoé!

CAMILO TORRES, O PADRE GUERRILHEIRO – SUA VIGÊNCIA 50 ANOS DEPOIS

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