taLENTOS da bola, o jogo

        E eis que a data se aproxima e os nervos já não se agüentam mais. O 04 de setembro promete escrever mais uma página do futebol arte na memória dos brasileiros.
        Em campo, craques de mais de uma geração. De um lado os ativistas do E. C. Mané Garrincha, do outro seus amigos comunistas. Homens e mulheres que aprenderam a tratar a bola com o mesmo tratamento que o poeta dá as palavras.
        Adversários históricos dos burgueses, ambas as equipes vão a campo para mais uma vez defender sua cor de glórias mil, o vermelho do sangue proletário e, antes do apito inicial, unidos, cantar o hino comum da classe trabalhadora: A Internacional. Com isso, repetem a façanha dos idealizadores do Festival Operário de 1919.  Já, com a bola em jogo a coisa deverá mudar de figura.
        Como toda partida, essa também tem lá seus segredos. Segredos estes que não se revelam por aí, no disse me disse da circulação bisbilhoteira, mas que nossas fontes seguras procurarão antecipar o que deverá se passar nas quatro linhas da produção futebolística.

Festival Operário de 1919
          A confirmar tal furo jornalístico, a equipe dos “Amigos Comunistas” jogará munida, não de uma, mas de duas táticas ao mesmo tempo. Precavida, deverá adotar as duas táticas da social democracia na Rússia nos gramados brasileiros, obedecendo, assim, a seguinte lógica: se o adversário jogar recuado, a tática ofensiva da maioria do futebol arte entrará em campo. Porém, se o adversário se mostrar agressivo a cautela deverá dar o tom em um jogo truncado, medroso, como só a minoria no passado jogava.
        Por seu turno, a equipe garrinchista também irá preparada para essa grande partida e, sabedora do que terá pela frente, procurará sufocar o rival desde o início da disputa. Mas se ela abrir o marcador no início do certame, dizem alguns, o recuo deverá se impor, arrastando com isso o jogo até o apito final na base do já conhecido esquema de um passo a frente, dois passos atrás...
        Como podemos ver as táticas das duas equipes não diferem em sua essência e ainda como ponto em comum há quem diga que elas podem valer-se do elemento surpresa, feito ataque guerrilheiro, fintando sempre pela esquerda e partindo em recuo para escapar à marcação inimiga. Outro ponto concordante entre elas deverá ser a concentração do dia anterior, com todos os atletas envolvidos na discussão sobre o valor. Para tal feito O Capital será de muita valia (de muita mais-valia!), dizem outros palpiteiros afins.
        E dizem muito mais: antes da partida dedicar um minuto de silêncio pela morte dos “campinhos de bola”, espaços improvisados em terrenos acidentados na vida periférica, urbana e rural, por onde tantos craques da bola deram seu primeiro ponta-pé na pelota. Vítimas da especulação imobiliária, tais campinhos estão morrendo em todo o país, com eles, morre junto o futebol arte. Mas essa especulação, sempre a beneficiar os donos da bola e do dinheiro, não pára por aí e quer fazer mais vítimas, por isso ameaçam remover sem-tetos dos grandes centros urbanos e moradores pobres, cujas casas ficam próximas de estádios que estão sendo construídos ou reconstruídos para uma Copa do Mundo que o pobre, quando muito a verá pela TV, já que os ingressos estarão acima das suas condições financeiras. Por isso, engrossando o coro dos descontentes que já ecoa por todo o Brasil, perguntamos: Copa para quem?
        Por fim, um salve para o futebol arte de todos os tempos, dos nossos dias ao passado com Friedenreich, Leônidas, Didi, Garrincha e Pelé. Uma vaia altissonante para Edson Arantes do Nascimento, Ricardo Teixeira e todos os demais cartolas que vivem da máquina de fazer dinheiro chamada Futebol S.A.
        Pois é, como podemos ver, não há feitiço que possa deter esses craques que estarão em campo neste 04 de setembro, próximo, e o passe de cada um deles, sabemos, não há fetiche de capital europeu que poderá comprá-lo.

São Paulo, agosto de 2011
Espaço Cultural Mané Garrincha

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