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É uma espécie de papagaio eloqüente. Fala mais e melhor do que os outros papagaios. É um animal capaz de repetir inumeráveis frases, de Sócrates a Spinoza, passando por Gilberto Freire e Lévi-Strauss, sem denotar nem conotar nenhum palavrão jamais. Seu vocabulário é extenso e erudito. Sabe muito bem outras línguas, ou apenas o razoável inglês, qual exibe muito galhardamente quando oportuno é. Ao ser domesticado ele anda exemplarmente ao lado do dono, sem arriscar vôo, pois que de tão obediente não ousa fuga.
No inicio de sua vida é somente um pequenino papagaio, recém saído da casca e que não sabe para onde voar. Sua sorte é deparar-se com membro adulto de sua espécie. Este, com seu lindo penacho e seu extenso palavreado repetitivo, educará aquele filhote, num processo conhecido como “iniciação científica”. Trata-se do momento em que o filhote aprende a gesticular, andar, sentar e falar como se de fato pensasse. Aprende a simular inteligência, que é a arte de citar os grandes pensadores. Terminado esse processo, o recém formado acadêmico seguirá sua vida, jantando papinha pronta, em peculiar companhia de outros animais, como porcos, raposas, cobras e cães de guarda.
É importante lembrar que a papinha pronta é o alimento básico dessa espécie, definindo outro de seus principais comportamentos, o hábito de sentar-se à mesa. O gosto por papinha pronta desenvolverá no papagaio acadêmico a faculdade de sentar-se à mesa como um homem civilizado, afirma o professor Dicson Grinspan, da Universidade de Óraios.   
Em seu livro de maior sucesso, Aves Delatoras, o renomado papagaiólogo, Herman Zuristiger, também comenta algo a respeito do assunto:
Nos jantares, ele (o papagaio acadêmico) costuma sempre exibir sua longa lista de palavras referentes à verdade ou a qualquer coisa, como as civilizações da América pré-colonial. À mesa não sabe bem onde se sentar. Prefere o lado esquerdo como o direito, mas as cabeceiras também não lhe desagradam. Na verdade, não sabe o que significa lado esquerdo, lado direito, ponta ou outra parte de um todo, apesar de saber proferir as palavras “esquerda”, “direita”, “ponta” e “outras partes de um todo”.  
O papagaio acadêmico é prolífero e não está em extinção. Todavia, sua caça ainda não é permitida, pois as leis referentes à caça de papagaios acadêmicos são comumente elaboradas por papagaios acadêmicos. 
Marcos +

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