Derrubar os muros da USP

- Para o movimento estudantil e demais lutadores -  

Há quem tenha medo que o medo acabe. (Mia Couto)

A violência no campus tem sido o pretexto para a implementação de políticas ditas de segurança que culminaram na instalação do aparato repressivo da Polícia Militar, dentre outras medidas. A existência de profundos problemas sociais – que exigem um posicionamento coerente com o caráter da universidade pública – tem sido camuflada e manipulada por uma "mão invisível" que oferece como "solução fácil" a segregação e a repressão através de muros, feitos de concreto ou não.

Nos últimos anos os espaços de discussão e convivência coletiva dentro da universidade têm sido reprimidos e esvaziados, isso sem falar do fechamento da universidade para a população em geral e do entorno. O tripé constituinte da produção acadêmica anda manco e a extensão universitária vai caminhando em direção às fundações de caráter privado. Isso demonstra a lógica privatista que vem vigorando e usurpando o espaço de conhecimento e transformação social que deveria corresponder à universidade pública.

Criam-se mais muros que geram mais violência, inclusive manifestações fascistas no interior da universidade e na mídia, ameaçando o modo de nos organizarmos socialmente. Tudo isso para facilitar a apropriação privada do conhecimento e intensificar a inserção da lógica capitalista na educação, onde o alvo do momento são os espaços que ainda oferecem resistência organizada: movimento dos estudantes e trabalhadores. Isso se revela concretamente pelas perseguições que muitos alunos e sindicalistas vêm sofrendo. Tal dinâmica, no entanto, não está apartada da sociedade, como mais um muro que querem construir setores da mídia, porta-vozes da classe dominante. A criminalização dos movimentos sociais ocorre em toda a sociedade, no Brasil e no mundo, como consequência da ganância do capital em expandir suas já desgastadas fronteiras. A luta dos estudantes da USP é mais um enfrentamento que se conjuga com a luta de estudantes e trabalhadores do mundo todo por educação, justiça social, condições dignas de trabalho e vida, contra o poder destrutivo do capital. Os muros que nos isolam de nós mesmos são construídos por essa ideologia que quer sugar tudo o que é vivo e criativo no humano para a contínua geração de lucros.

Temos que dar um basta nisso e começar por destruir os muros que nos aprisionam dentro do espaço da universidade. Destruir os muros que impedem a população de adentrar no espaço de conhecimento que deve ser construído e apropriado por todos, para o bem comum da sociedade. Destruir o muro que nos separa da São Remo, onde residem trabalhadores e jovens que constroem a universidade e que, no entanto são perseguidos e criminalizados por serem pobres. Destruir o muro da FUVEST que restringe e elitiza o acesso à universidade.

Propomos um ato de derrubada do muro entre a USP e a São Remo como marco inicial dessa jornada de lutas contra todos os muros que nos aprisionam dentro e fora da universidade!

São Paulo de Piratininga, novembro de 2011
Espaço Cultural Mané Garrincha

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