boca de ouro



boca de ouro, no tempo em que era apenas raimundo bispo dos santos, trabalhou como um coitado durante 6 anos e 2 meses. aí desapareceu. voltou depois. transformado em boca de ouro, o magnífico: calça azul de linho, camisa verde, anel de doutor e dentadura toda de ouro. com o tempo, ficou pobre novamente e foi vendendo a dentadura aos poucos – um dente por ano. e, dente por dente, no fim restou-lhe um único, escondido no fundo da boca, mostrado apenas aos íntimos, em ocasiões especiais. um dia – véspera de natal –, aos sessenta e tantos anos, apostou que beberia dois copos grandes de cachaça – seu último dente contra uma garrafa de vinho. ganhou a aposta e morreu. com dignidade, apesar de tudo.   


Obs.:

- Crônica do poeta Souzalopes publicada no Jornal Versus nº 7, em dezembro de 1976.

- Contribuição enviada pelo camarada Alfredo.

- Souzalopes completaria 60 anos hoje, 12.08.2014, se o morte, esse bicho masculino, que é como ele dizia, não o tivesse levado em 28.05.2012.  

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