Saudação aos companheiros do “Encontro Internacional de Resistências Populares de America Latina e Caribe”



É com grande alegria que recebemos o convite de vocês. Nós, os de baixo, os de Esquerda, assim como vocês, alimentamos o sonho de uma America Latina unida. Para isso se faz necessário lutar. E a luta será melhor se pudermos trocar experiências. E se não podemos estar juntos fisicamente nesses dias 10,11 e 12 de outubro de 2014, chegamos até vocês com palavra companheira, na esperança de que o Encontro seja bem sucedido e que em breve possamos nos encontrar de fato.

Apreciações 

Desde o primeiro governo Hugo Chávez, em que se rechaçou a política imperialista da ALCA, e antes mesmo, com os zapatistas em 1994, os povos latino-americanos têm dado sinal de grandes lutas, com mobilizações intensas. Como expressão dessas mobilizações, uma gama de governos denominados populares[1] chegou à chefia do Estado burguês nas Américas. Todavia, isso não se traduziu em poder real para as classes populares. Pelo contrário, por exemplo, em nosso país, grandes seguimentos de massa organizados deixaram as ruas para negociar possíveis ganhos em gabinetes ministeriais para os trabalhadores. Passado alguns anos, o saldo não é dos melhores.  
A lógica mantida por esses governantes tem sido a de uma política com base em exportação de matérias primas (produtos com baixo valor agregado) servindo de suporte para a especulação em commodities, tendo como complemento um falso poder de compra das famílias pobres por meio do crédito. Hoje, essa política econômica dá sinais de esgotamento, e por isso emana um descrédito do povo em relação a esses governos tidos por antineoliberais, mas que nunca apontaram para mudanças estruturais nas economias dos países em que se é governo. Afinal, nada se alterou na política de juros altos e de poucos investimentos no setor produtivo. Agora, como conseqüência dessa política, as famílias estão endividadas, a inflação voltou e a indústria segue em desaceleração constante.
Além disso, é preciso ter claro que para chegar ao governo do Estado burguês, tais seguimentos que no passado eram chamados de esquerda, precisaram negociar com as famílias tradicionais de cada país em que se chegou a essa administração. Os acordos palacianos levaram esses governantes a manterem-se nesses espaços a qualquer custo e a corrupção tornou-se prática sistemática de seus governos.
Feita essas constatações, é preciso dizer, a luta tem continuado! Ela se expressa nas ruas, nas favelas, ocupações rurais e especialmente urbanas, com os sem-tetos. Em contrapartida, os governos, federal e das unidades federativas, têm avançado numa política de segurança, traduzida em repressão, encarceramento e criminalização de todo aquele/a que luta.
Em junho de 2013 tivemos uma experiência enriquecedora com um grande movimento de massa que foi às ruas e tomou todo o país. Governos liberais e não liberais, de todos os matizes, foram desacreditados pelo povo em movimento. Ao mesmo tempo, os partidos de esquerda institucionalizados vieram a reboque dessa mobilização popular liderada pela juventude, enquanto as direções dos movimentos massivos de esquerda tentaram conter os protestos e impedir suas bases de se envolverem nas lutas, pois, em vez do povo, preferiram defender o governo.
Como resultado dessa política, por termos um protesto duma juventude com referência na esquerda, mas sem grande acúmulo teórico e prático e, por outra parte, pelos tradicionais seguimentos de esquerda não se comprometerem efetivamente com as ruas e sim com seus representantes de governo, abriu-se uma brecha para a direita tentar se aproveitar da situação. Incapaz de se afirmar nas ruas, a direita se valeu das eleições institucionais para fazer avançar seu projeto neste ano de 2014.
É interessante salientar que os protestos de junho de 2013 liderados pela juventude tiveram caráter urbano, iniciando-se pela redução da tarifa e pondo em xeque as empresas de transporte. Essa bandeira do transporte público de qualidade aglutinou milhares de brasileiros e ampliou para outras demandas, principalmente, os movimentos dos sem-tetos que potencializaram suas ações desde aí, ocupando e resistindo aos despejos. Ao mesmo tempo, uma grande quantidade de greves assolou o país. Entretanto, com as principais centrais sindicais servindo ao governo e não aos trabalhadores, essas greves não foram articuladas e unificadas para se ter um maior embate da classe trabalhadora contra os patrões.
 Por outro lado, por estar refém do agronegócio das multinacionais e latifundiários, o campo brasileiro tem virado área fantasma, onde as terras indígenas são violadas continuamente e a morte dos povos originários dessa terra torna-se algo banal, enquanto seus assassinos permanecem impunes.

           Nuestra América de Hombres e Mujeres

Companheiros, apesar da constatação que aqui fazemos, em nenhum momento somos tomados por um ceticismo sobre a situação de América Latina. Pelo contrário, mais do que nunca, há possibilidades reais de pensarmos uma América Latina unida, capaz de termos trabalhadores de todos os países em condições de se unir e lutar como uma só força. Isso começa pelas lutas diretas que têm feito os movimentos de massa e a juventude em defesa das condições básicas e da vida de cada homem e de cada mulher deste sofrido continente. Iniciativas como essa de vocês são fundamentais para se articular um pólo de luta internacionalista, anticapitalista e antiimperialista, tendo a certeza de que o embate se dará pelas principais cidades do continente.
Mais do que nunca, hoje precisamos da ousadia revolucionária. É preciso não medir esforços para ensinar e aprender com os jovens que demonstraram uma capacidade mobilizadora de fazer inveja a muita organização de esquerda.
O capital tem realizado grandes transformações nas sociedades humanas e mesmo no planeta. Não obstante, sua transformação obedece ao mercado, por isso ele poderá oferecer produtos convertidos em mercadorias, mas propiciar a utopia é algo que ele jamais poderá fazer. Em contrapartida, somente a Esquerda revolucionária poderá despertar o ser humano para a luta. Esse ‘despertar’, claramente identificado com a utopia de um mundo novo, não poderá passar pelos acordos ministeriais e palacianos e sim, nas ruas e praças, no campo, florestas e cidades.
Que tenham um grande Encontro e que ele sirva de estímulo e que em breve possamos nos encontrar como irmãos e irmãs que irão lutar juntos por um novo amanhecer.
Neste 08 de outubro de 2014 – data de uma eternidade chamada Ernesto, recebam de nossa parte um forte e caloroso abraço.

Espaço Cultural Mané Garrincha – São Paulo/Brasil


[1] Enquanto Hugo Chávez chegou ao governo de Venezuela como resposta do povo aos ataques produzidos pelo Caracazzo, figuras como Lula da Silva somente pode administrar o Estado burguês ao renunciar à política de um governo voltado para os trabalhadores, beneficiando banqueiros e o capital internacional em geral. Enquanto Chávez expressou uma tensão no campo político nacional e internacional, o governo Lula, continuado por Dilma Rousseff, significou a contenção dos acirramentos de classe, na medida em que fez de muitos seguimentos dos trabalhadores organizados uma mera correia de transmissão de sua política submissa aos ditames do imperialismo ianque.

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