Terra Brasilis



       Se, como ensina Wittgenstein, só se deve falar quando já não se pode calar, após certo silêncio, aqui estamos. Temos algo a lhes dizer.
Ainda que os desavisados pensem que ROUSSEF e YOUSSEF sejam apenas nomes sugestivos para aquelas duplas que tem o coração como centro do universo e um par de chifres girando ao redor, a coisa é bem outra.
ROUSSEF é a encarregada de administrar o país para que empresários lucrem dentro da lei. YOUSSEF, figura sinistra (mas não única!), encarrega-se de garantir lucros ainda maiores para os mesmos empresários através de negócios obscuros. Quanto à corrupção, ROUSSEF nada sabe. YOUSSEF sabe um pouquinho. Mas poderá saber um pouco mais caso seja ampliado o prêmio de sua delação. É sério esse país? Sim, porque garante a ordem burguesa!
O fato é que a crise está aí e se as quatro gestões petistas puderam conciliar fartos lucros a grandes empresários, via juros altos, vantajosas commodities e algum tipo de auxilio aos famintos, hoje o capital exige liquidar de vez com esse tipo de auxílio. Quem disser o contrário que nos aponte para onde foi a já esquecida emergente classe C, desaparecida no horizonte da fantasia de um país de meteórica sexta economia e que deixou nada mais que um rastro de dívidas para trás. Dívidas que ela, classe C e demais miseráveis, agora, terão que pagar.
Mas, se dona Dilma aperta o cinto do faminto, para seus patrões a elasticidade está garantida. Prova disso são suas declarações (e de seus nobres colegas), de que se deve punir apenas os executivos das empreiteiras envolvidas nos escândalos em torno da Petrobrás, mas não as empresas citadas. Como se esses executivos agissem em causa própria. É sério esse país? Sim, porque garante a ordem burguesa!
Mas, alto lá! Não pense o incauto que estamos aqui a exigir moralidade no país. Exigimos, sim, a supressão dessa ordem que gera toda sorte de imoralidades. Ou, para recordar o velho amigo, seu Manoel: querer que no capitalismo não haja corrupção é querer que o leão não coma carne. Ora, é da natureza capitalista lucrar e para isso vale tudo, inclusive reconhecer sua vocação para capacho do imperialismo. É o que faz o tucanato de Aécio, Alckmin, Serra, FHC e cia.
Essa gente, durante os dois governos de FHC, doou ao capital estrangeiro grande parte das empresas produtivas do país. Empresas que davam lucros e serviam de garantia para novos investimentos nessas terras. Inconformados por não terem conseguido privatizar a Petrobrás (ansiavam até mudar o nome para Petrobrax), apóiam-se hoje na corrupção que grassa a estatal, apontam para um possível impeachment para Dilma Roussef e almejam o sonho de vender o país de vez, para pesadelo da imensa maioria dos brasileiros. É isso o que está por detrás de todo esse estardalhaço.
Mas a viabilidade de um golpe civil desse tipo não poderá vir apenas da tola cabeça de um fanfarrão como Aécio Neves. Moleque envelhecido, capaz de convocar uma passeata contra Dilma e deixar seus partidários sozinhos na mesma, enquanto ele curtia um dia sol nas praias do sul. Não, a conjuração vai bem mais longe.
Enquanto Aécio grita no senado e a classe média, especialmente a paulistana formada por tendenciosos meios de comunicação, vitimada por seu próprio preconceito, embarca nessa onda (que não é a mesma da praia de seu Aécio), o evangélico Eduardo Cunha do PMDB-RJ, assume a presidência da Câmara Federal dos Deputados, atrai a simpatia da bancada evangélica ao ressuscitar projetos para criminalizar o aborto, humilhando a mulher brasileira ao não demonstrar compaixão sequer para com a irmã de fé (bolsa - estupro e defesa da família tradicional), corrói o PMDB governista por dentro e cria condições para manter o Executivo refém de um Legislativo, que por sua vez é refém das mais tentadoras intenções privatizatizantes. Corrobora toda essa orquestração que escapa ao âmbito nacional a extradição autorizada pela Justiça italiana do senhor Pizzolato, réu foragido no caso do Mensalão - petista, atualmente vivendo na Itália e que a oposição de direita à Dilma espera trazer para que de sua boca saia boas munições contra a presidenta. Por sua parte, o STF julga inconsistente a acusação de envolvimento de dois ex-secretários de Geraldo Alckmin em corrupção nas licitações do metrô paulistano, ainda que haja depoimento de executivos das empresas envolvidas citando a ambos. E a coisa não pára por aí. Na questão da falta d’água, por exemplo, Geraldo Alckmin sabia desde 2004 da necessidade de se ampliar os reservatórios, mas dez anos depois nada foi feito. Agora que a seca tornou-se fato o canalha raciona a água na periferia e garante para seus amigos endinheirados, como donos de shoppings que pagam a metade do preço médio da água. Pior, em meados de dezembro passado, a bancada de seu partido, o PSDB, aproveitando-se do clima festivo de fim de ano, aprovou um projeto de redução das matas ciliares no estado de São Paulo. Essas matas acompanham e protegem os rios e, por Lei Federal, devem ser conservadas em trinta metros a partir da margem (o que já é pouco). Pois bem, os tucanos do PSDB, que ironicamente concebem um mundo sem árvores, votaram uma redução para cinco metros. E tudo isso para agradar seus sócios, fazendeiros e empresários rurais do agronegócio. Mas a tragédia anunciada vai além, bastando ver que o município de Jandira – SP, outrora arborizada, está se tornando um descampado para abrigar galpões de empresas do estado mais rico da nação. Toda essa devastação propicia a seca no médio prazo. Não devemos culpar a Deus nem ao Diabo. A seca em São Paulo tem jeito e cheiro de Tucano e atende pelo nome de Geraldo.
Aos trabalhadores restará a luta, pois, da vaca que tossia nem tosse sobrou. E, o pior, com a seca que nos assiste, nem brejo terá para uma vaca atolada. No que tange a espremida classe média, enquanto ela não tentar superar a burrice que lhe querem inerente e se juntar aos trabalhadores da cidade e do campo em um projeto de nação, o esperneio continuará a ser seu mote, tendo uma passeatinha aqui e outra acolá. Bobagem porque enquanto ela definha o grande capital aumenta sua lucratividade. Ou alguém tem dúvida de que seu Joaquim do Bradesco assumiu a pasta da Fazenda apenas por birra de Dona Dilma com a ex-faminta Marina Silva e seu sonho dourado de tornar-se presidenta e por alguém do Itaú para cuidar da galinha dos ovos de ouro? Aliás, dona Dilma, para desespero dos reformistas, demonstrou que Marina Silva é descartável mesmo para o Itaú, já que os lucros deste em 2014 saltaram de 15 para 20 bilhões, enquanto o Bradesco representado por seu Joaquim Levy ficou em segundo, com um montante que pulou de 12 para 15 bilhões. Sejamos razoáveis...
Como essa abertura, é o que tínhamos a dizer neste novo AROEIRA. Leia sem moderação.




Março de 2015,
 A Equipe Redatora.




*Este texto é o editorial da edição de março de 2015 do Aroeira, Jornal  organizado pelos integrantes do Espaço Cultural Mané Garrincha. Caso  queira ter acesso a todo o conteúdo do jornal, favor entrar em contato  conosco pelo e-mail ecmg.blog@gmail.com ou comentando essa postagem.

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