Césare Battisti e o Juiz na Bruzundanga Revisitada

Até que nos prove o contrário, a cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, continua sob jurisdição brasileira. Mas não parece ser este o entender do senhor juiz Odilon de Oliveira, da 3.ª Vara Federal de Campo Grande, ao proferir a prisão preventiva do ex-ativista italiano, e hoje escritor literário, Césare Battisti, no último dia 4 do mês corrente. Para coroar o show de sapiências e confirmar que essa é mesmo a terra dos bruzundangas de que nos advertira Lima Barreto, o doutor Odilon convocou uma coletiva de imprensa para (pasmem!) anunciar que aquele era seu último dia de desembargador e que no ano seguinte seria candidato ao pleito eleitoral.
Segundo o mesmo juiz, Battisti fora preso por questão de segurança nacional (sic) e possível fuga do país, ainda que o acusado já esteja vivendo no Brasil há onze anos sem nenhuma atitude que desabone sua conduta, sendo resguardado pela lei que lhe confere status de imigrante permanente concedido pelo decreto presidencial de Lula da Silva em 2010 e ratificado pelo STF em 2011.
Integrante do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), organização revolucionária clandestina nos anos setenta, Battisti foi julgado à revelia em seu país após delação premiada de um traidor e sentenciado a duas prisões perpétuas por supostos quatro homicídios. Desses, (pasmem novamente) dois ocorridos no mesmo dia e instantes, porém, em cidades separadas por mais de 200 km de distâncias uma da outra.
Seu país de origem é um país controverso. Livrou-se de Benito Mussolini no pós-guerra e abraçou a democracia, porém, encastelou toda uma gama de fascistas em suas repartições públicas. A máfia, que bem sabe da importância de um Estado deste tipo para negócios ilícitos bem sucedidos também foi buscar seu quinhão, ou alguém acha que Berlusconi caiu de páraquedas na chefia daquele Estado? Pois bem, foi esse tipo de Estado que Césare Battisti combateu de armas nas mãos.
Derrotado militarmente, fugiu para não ser assassinado por seus inimigos. Vindo parar em terras brasileiras, sua vida continua ameaçada. Portanto exigimos:
1) Que o status de imigrante permanente conferido a Césare Battisti pelo Estado brasileiro não seja mera retórica, mas força de lei;
2) Que a Itália pare de tratar o Brasil como fosse uma criança envelhecida que não sabe o que faz e passe a respeitar a nossa soberania nacional;
3) Que Michel Temer não suje suas mãos de sangue ao entregar Césare Battisti à justiça italiana;
4) Que a mesma exigência feita a Michel Temer seja estendida ao ministro Luiz Fux do STF, responsável pelo desfecho jurídico da situação de Césare Battisti no Brasil.

É o que tínhamos por dizer para o momento,
São Paulo, 11/10/2017.

Espaço Cultural Mané Garrincha - espacogarrincha.blogspot.com 

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