Passamos
por um momento político histórico, nos últimos dias vimos milhares indo às
ruas, em São Paulo e nos mais diversos estados brasileiros. O que antes se
tratava de uma pauta específica, a revogação do aumento da
passagem, se transformou em algo muito maior. A questão não era pura e
simplesmente os R$ 0,20, mas as diversas outras questões que envolviam o
aumento, a população necessitava de um vento que a movimentasse, veio uma
ventania, a questão é saber para que direção esse vento soprará. Nos primeiros
atos promovidos pelo MPL (Movimento Passe Livre) havia poucos manifestantes,
com a repressão promovida pelo Estado repressor e seu braço armado, a Policia
Militar, o movimento cresceu e tomou proporções gigantescas, porém como
consequência desse crescimento também vieram outras questões. Na segunda-feira 17 de junho de 2013 a cidade de fato parou, mas parou como pararia para uma
parada gay ou para uma virada cultural. A juventude não tem nenhum referencial histórico
nem político, o mais próximo que se tem de referência é a bandeira e o hino
nacional, um vento sem rumo que balança a bandeira verde-amarela tende a ser
facilmente cooptado pelo fascismo. Até a data de escrita desse texto contabilizaram-se
6 mortos em manifestações, um deles foi o jovem Diego, que caiu de um viaduto
em Minas e que a polícia impediu o socorro, porém e os milhares que morrem nas
favelas todos os dias? Foram 10 mortos na chacina na Maré, no Rio de Janeiro,
também promovida pela polícia militar. O que fazer com uma geração que nunca
viu uma manifestação, que grita contra as bandeiras vermelhas, sendo estas
partidárias ou não. Em outro momento na história havia uma outra geração,
geração esta que teve seu saldo de torturas e mortes, naquele momento as
bandeiras vermelhas eram mais necessárias que nunca, era preciso mostrar a
oposição, a Copa do Mundo viria e poderia por tudo a perder com a ideia de um
povo tão brasileiro a ponto de assimilar bem a frase “Brasil: Ame-o ou
deixe-o”, isso foi na ditadura de 1964, qualquer semelhança não é mera
coincidência. Na atual ditadura com cara
de democracia a FIESP expõe a bandeira do Brasil na Paulista, a Globo apoia os
atos porque mostram a “indignação do povo brasileiro”, a mesma tv Globo que
apoiou a ditadura militar no Brasil, a mesma mídia conservadora que hoje mostra
com orgulho o verde e amarelo na Paulista e omiti os assassinatos diários nas
periferias.
A
esquerda durante muito tempo não se preocupou em fazer trabalho de base, no dia
trágico, que deveria ser uma comemoração na Paulista, via-se nitidamente a
divisão, bandeiras vermelhas em uma via e bandeiras verdes e amarelas em outra,
de fato havia policiais infiltrados que instigaram a massa, o apartidarismo
tomou a forma do anti-partidarismo, que estava mais para “anti-vermelhismo”,
qualquer bandeira ou vestimenta na cor vermelha eram queimadas ou destroçadas e
quem estivesse vestido na cor vermelhar era agredido ou hostilizado, onde está
o “sem violência”? Nesse apontamento cabe a autocrítica à esquerda brasileira,
porque a massa de fato se sente mais representada no verde e amarelo que no
vermelho, apesar de a cor vermelha ser historicamente um símbolo de luta e
militância política, ficamos anos dialogando entre nós, e hoje vem à tona o
resultado desse descuido, um povo que não tem tradição de militância está nas
ruas. Nossas bandeiras e gritos têm a obrigação de dialogar com essa massa
tanto no centro como na periferia.
Despolitizada
ou não já foram contabilizadas muitas mortes, para uma manifestação pacífica o
que mais esta havendo são mortos e feridos e muitos do nosso lado, temos que
pensar estratégia e tática para nos organizar e não permitir que mais pessoas
morram por lutar.
Carpe
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